“Feito Gente Grande”, infância poetizada

A diretora Carine Tardieu estreia na direção com este primor de filme, “Feito Gente Grande”. A História gira em torno de uma menina de 9 anos, Raquel, (Juliette Gombert, excelente no papel), extremamente tímida, alvo em potencial de bullying na nova escola. Criada por pais completamente ignorantes em termos de linguagem infantil, ela vive os dramas em repercussão aos sintomas neuróticos deles. O pai repete diariamente q na idade dela ele estava em Auschwitz; a mãe atrasa invariavelmente ao pegar e deixar a menina na escola. Assustada, esta chega ao novo colégio totalmente despreparada socialmente.

É neste cenário q surge outra garotinha, oferecendo-se a uma nova amizade. A partir daí, esta amiga (q sofria de uma afecção cardíaca) e sua mãe divorciada começam a operar uma transformação afetiva na família da protagonista. Gradativamente, uma família traz à outra leveza, sorrisos, generosidade e disponibilidade amorosa.

A diretora apresenta com extrema delicadeza o processo de humanização de uma família embrutecida e ressecada, carente de qualquer tipo de erotismo. Repleto de belas metáforas – algumas em flashback -, o filme expõe as sutilezas subjetivas de cada personagem. O esmero da direção se aplica também aos coadjuvantes, como a psicanalista da menina (vivida pela veterana Isabella Rossellini), chamada de Madame “Trebla”, numa satírica alusão à falação dos psicanalistas.

Uma única cena já valeria o filme, quando a diretora num rompante cênico faz a menina sentar-se no colo do pai em corpo de menino num flashback em Auschwitz, simbolizando um adocicar dos sentimentos dele através da filha transformada pela nova amiguinha.

Encantador, comparável aos inesquecíveis “A Culpa é do Fidel” e “Valentim” quanto à sensibilidade ao ilustrar as sentimentalidades do mundo subjetivo infantil. Não percam!

3 pensamentos sobre ““Feito Gente Grande”, infância poetizada

  1. (continuação…)

    vão aparecendo, sem perder a ternura ou a capacidade de ser feliz. Acho q, desde muito novinha, Maisie já entendia q “whatever works” é tudo (e assim o melhor) q podemos ter.

    P.S.: Desculpe, não sabia do limite de palavras.

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    • Lindo seu comentário, Mariana, super tocante. Me lembrou “Indomável Sonhadora” (ótimo, apesar de muito hollywoodiano), mas aqui a menina tb precisa se embrutecer para sobreviver na selva.
      Seu comentário lembra o clássico do Che “endurecerse pero sin perder la ternura jamás“…

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  2. Confesso q ainda não vi esse filme, mas ele me fez lembrar de outro q tb aborda o mundo sentimental/real infantil. Em “Pelos olhos de Maisie”, baseado na obra de Henry James, uma garotinha de uns 8 anos vive no meio das disputas de pais separados, tb é esquecida nos lugares, anda pelas ruas sozinha à noite buscando abrigo…, mas
    nem por isso fica embrutecida. Maisie não briga, não grita, não reclama (na verdade quem faz isso são os adultos, seus pais).
    Ela vai aceitando as coisas conforme elas (continua …)

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