Praticamente uma obra-prima, este filme sueco impressiona pela ousadia de propor um ensaio sobre cinema. Sua discursividade multifacetada dialoga com bastante proximidade com a trajetória do mestre Alain Resnais (“Ervas Daninhas”, “Hiroshima Mon Amour”, “O Ano Passado em Marienbad”). Sua forma descontinuada de apresentar questões impacta por estar quase sempre à medida de alfaiataria (à exceção de um tom acima de surrealismo no terço final).
Seus personagens carregam o peso da melancolia sem disfarces, realçada pela insistência de algumas cenas, pela precisão dos atores e pelo impressionante esmero do cinema nórdico em trazer sua discussão de forma radicalmente enxuta, sem apelações. Tragédia e humor negro caminham de forma desconcertante, bela e sem bagunça. A parte humorada lembra o excelente e refinado “O que Resta do Tempo”, do palestino Elia Suleiman.
O diretor sueco apresenta as cenas sem “distrações” em torno, como se escolhesse a ausência plena de “coadjuvações”. O vazio emocional de dois amigos vendedores de “entretenimento” (pequenos apetrechos de fazer rir) é enfatizado em seu cotidiano repetitivamente dramático, triste. A decadência e o desespero sem gritos expressam o fim das forças da vida destes dois amigos em falência. No entanto, só lhes resta insistir no vazio, pois em volta não há mais nada. Enquanto isso, o filme traz o paralelo de um pós-guerra devastador. A despeito do impossível, a dona de um bar vende doses de bebida por beijos nela, enfatizando a força de resistência humana, na mais bela cena do filme, ao som de uma música alegre e sem sombra de alienação.
Quando Freud escreveu o célebre texto “Luto e Melancolia” (equivocadamente interpretado como “luto ou melancolia”), postulou a emblemática frase de q o melancólico vive “à sombra do objeto perdido”, eternamente fadado a uma mórbida repetição. Aqui neste filme, os personagens insistem durante sua própria falência, num misto de força e desesperança includentes, a única realidade de ser humano. Ambivalentemente forte e fraco, desistente e insistente.
Parafraseando Nietzsche, demasiadamente humanos.
De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente
ele não sabe ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil
De onde vem o jeito tão sem defeito
que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso tão indeciso
Esta se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão
Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
não vou ceder
Deus vai dar aval sim,
o mal vai ter fim
e no final assim calado
eu sei que vou ser coroado rei de mim.
De onde vem a calma. Los Hermanos.
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Well if you don’t like it
Go ahead, find yourself a saint
Go ahead now
Try to find someone
Who’s gonna be what I ain’t
Well if I’m acting like a king
That’s ‘cause I’m a human being
And if I want too many things
Don’t you know it’s ‘cause
I’m a human being
And if I’ve got to dream
Well I’m a human being
And when it gets a bit obscene
You know I’m a human being
And I’ve just got to go around
With my head hung down
Just like a human, babe
An unknown human being
We’re all just human beings
Or I can hold my head so high
Because I’m a human,
A real proud first class human being
In fact I’m talking about the human race. You’re trying to cover up the big disgrace/mistake. Oh yeah!
“Human Being” (versão editada), The New York Dolls, 1974.
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